domingo, 24 de maio de 2009

Fragmentos do cotidiano...

Quarta-feira, quase dez horas da noite, estou saindo do consultório depois de um dia de trabalho. Lá fora a minha espera um táxi. Entro e comento com a motorista como ultimamente tenho visto mulheres ao volante. Começamos uma conversa que me anima, apesar do cansaço.
“Como é para uma mulher estar em um táxi?”
“Hoje em dia, melhor. Eu gosto porque vejo muitas pessoas diferentes e ouço muitas histórias...”
“Trabalhos parecidos” penso eu.
“Por exemplo, antes de pegar a senhora, levei um rapaz em Santa Teresa. Ele estava se separando naquele momento...” “É mesmo? Como vc sabe?”
“Tinha mala, caixas, tudo na rua. Um amigo estava com ele. Ali em Botafogo. Quando íamos saindo desceu uma mulher e um menino. Não tinha mais que três anos. Acho que não tava entendendo nada direito. Ela trouxe o violão que ele tinha esquecido.”
“E ela estava bem?” “Parecia”
“Mas, quando ele entrou no carro, me perguntou: será que estou fazendo a coisa certa? Sei lá, eu disse, mas posso contar a minha experiência.”
A esta altura eu já estava totalmente envolvida na narrativa da motorista. “Ah, você também se separou?” “É, tem três anos. Fiquei casada 10.” “Teve filhos?” “Não, mas ele tinha uma filha que eu criei. Até hoje me chama de mãe. Hoje mesmo me ligou. Então contei para ele a minha história e disse que o mais importante era que ele e a mulher ficassem amigos. As crianças sofrem muito com as brigas dos pais.”
Eu disse que isso era fundamental. Ela continuou me contando que era muito amiga do ex-marido. “Dividimos este táxi. Ele teve uns problemas e eu coloquei ele no táxi. Antes ele me colocou no dele. Nós conversamos às vezes sobre a menina. Ele casou de novo. Quem não gosta muito da nossa amizade é a atual, né? Mas, não quero saber... Ele me traiu. Não quis mais nada com ele, mas sei que ele não é só a traição. Foi muitas outras coisas para mim. Não é má pessoa, mas a senhora sabe como é homem... Mesmo assim, acho que os pais não podem ficar em guerra. As crianças é que ficam no meio e isso é maldade!”
Quase chegando em casa, agradeço a conversa e a história e saio do carro, comovida, no sentido literal da palavra. Fui movida com Katia para a história dela, contada de forma tão simples e corriqueira. Tantos livros escritos, tantas teses e horas de terapia. Lá estava Katia dirigindo seu táxi e sua vida com a sabedoria de poucos.

Acrescento à história uma música que adoro sobre separação. Uma das poucas que fala de filhos. Sempre me emociono ao ouvir. Como me emocionei com a Katia.
Até a próxima,

2 comentários:

  1. Adorei o relato, a historia de vida verdadeira sem teoria e cheia de sabedoria, adorei a musica, adorei aprender que não é necessário “saber” tanto, basta saber o que se quer, para poder ter um bom inicio e um bom fim.

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  2. Salve Katia,uma expert, que aprendeu com a vida!
    Quantos de nós, somos Katias sem coragem de ousar, de arriscar?

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