terça-feira, 15 de setembro de 2009

AMAR


AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade
1902 -1987

3 comentários:

  1. Nadia, adorei os poemas! é isso aí, continuamos em todas as épocas e com todas as mudanças aspirando ao amor. Por quanto tempo for, com suas feridas e delícias... Estou lendo um livro também que recomendo. Um romance "Divórcio em Buda", de Sandor Marái, um escritor húngaro,morto em 1989. O livro conta a história de um "juiz de divórcios" em Buda (parte de Budapeste) nos anos 30.Impressionante ver como se parece com hoje em dia... Vale um post mais tarde quando tiver lido mais um pouco. Mas, mesmo não tendo terminado a leitura, já acho que vale a pena ler.

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  2. ¿Qué se ama cuando se ama?

    ¿Qué se ama cuando se ama, mi Dios: la luz terrible de la vida
    o la luz de la muerte? ¿Qué se busca, qué se halla, qué
    es eso: amor? ¿Quién es? ¿La mujer con su hondura, sus rosas, sus volcanes,
    o este sol colorado que es mi sangre furiosa
    cuando entro en ella hasta las últimas raíces?


    ¿O todo es un gran juego, Dios mío, y no hay mujer
    ni hay hombre sino un solo cuerpo: el tuyo,
    repartido en estrellas de hermosura, en particular fugaces
    de eternidad visible?


    Me muero en esto, oh Dios, en esta guerra
    de ir y venir entre ellas por las calles, de no poder amar
    trescientas a la vez, porque estoy condenado siempre a una,
    a esa una, a esa única que me diste en el viejo paraíso.


    De Contra la muerte, 1964.
    Gonzalo Rojas

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  3. Linda poesia Catalina. Obrigada pelas suas contribuições, imprescindíveis para nós. Ah, o amor!Tão fundamental, quanto difícil.
    Besitos.

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