segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Eu e nós ou eu versus nós...


Há alguns dias saiu uma entrevista do psicanalista Contardo Calligaris em um site da internet. Lendoa mais recente acabei relendo uma outra antiga entrevista dele. Calligaris, com uma experiência clínica de mais de 40 anos, compartilha algumas ideias que desenvolveu nesse afazer diário. Ele fala de algumas ideias a partir da sua experiência no consultório.

Algumas me chamaram a atenção.Um dos temas mais referidos na sua clínica, vocês já podem imaginar são as relações amorosas, e uma das formas preferidas pela nossa sociedade dessas relações se darem: o casamento. Crítico ácido dessa instituição, Contardo diz, por exemplo que o tema da individualidade tem sido um dos mais importantes nas falas de seus clientes e também tem aumentado consideravelmente de tempos pra cá.
Essa afirmação lembrou-me também de algumas questões que aparecem no consultório e  de algumas passagens do grupo que fiz em 2011 para o doutorado.
O tema da individualidade, da privacidade individual e de como coordenamos as necessidades do eu com o nós tem sido um dos temas mais frequentes nos casamentos e também nas separações. Algumas separações, especialmente entre os mais jovens, vão se dar por uma descontinuidade de projetos comuns ou por uma incompatibilidade de projetos individuais. Sonhos como estudar fora, conhecer outras culturas, experimentar o mundo, são cada vez mais comuns e não adiados ou relegados ao pacote das oportunidades que chegaram tarde na vida. A ascensão profissional ou a realização pessoal convivem ou tentam, pelo menos, com a vontade de estar casado ou ter uma família, ou mesmo uma relação mais estável com um/a parceiro/a. Algumas vezes, isso afeta o projeto a dois ou mesmo, inviabiliza a relação.
Mas nas pessoas mais velhas também os projetos pessoais e a realização contam cada vez mais. A faixa etária onde mais crescem as separações e  em que as taxas de casamento também vem crescendo é entre os 50-60 anos. Nessa faixa onde o casamento já deu sinal de desgaste, os filhos estão longe fisicamente e como projeto de vida do casal, outros ideais se impõem e reavivar a possibilidade de viver relações amorosas tanto dentro como fora do formato casamento, tornam-se muito atraentes. Afinal, metade da vida se foi e, não dá pra ficar vivendo uma situação morna e burocrática.
Por essas e outras,  a equação eu/nós, muitas vezes é vivida como eu x nós.
Um desafio contemporâneo que nos leva a pensar e criar novas formas de nos relacionarmos a partir do amor, novas formas de criar filhos, mas também novas formas de estar no mundo que consigam redefinir individualidade e conexão de formas menos antagônicas.
Abaixo deixo os links das entrevistas de Contardo Calligaris para que vocês possam ler.






2 comentários:

  1. Muito boa esta ideia de pensar novas formas de estar casado , considerando as individualidades. Tanto sofrimento pode ser evitado se deixamos de lado modelos de casamento baseados em formas de vida de vida do seculo passado!!!! Obrigada Rosana mpartilhar os artigos do Calligaris

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  2. É isso mesmo, Monica. Por esses dias, um cliente meu que acabou de se separar trouxe o questionamento: como posso amar sem me casar? Parece fácil, mas quando as pessoas se envolvem, casar aparece como o caminho natural. E, se isso não acontece, temos várias ideias pré-concebidas, como a de que a pessoa, especialmente o homem não quer "assumir" a relação ou a mulher ou não ama o suficiente. Temos bastante caminho pela frente para re-pensar nossas maneiras de estar juntos e amar.

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