quinta-feira, 19 de maio de 2011

É conversando que a gente se entende...

Cada vez mais tenho essa convicção. Não falo daquela conversa que ficou famosa nos anos 80/90, que bebia nas fontes de uma extrema psicologização da vida, da educação dos filhos e da vida em casal. Não falo daquela conversa em que o mais importante é falar, se expressar, verbalizar...palavra que ficou na moda. Não é dessa conversa que falo. Falo do que conhecemos por diálogo e que como tenho percebido e vivido, envolve alguns exercícios muito difíceis. 1) Falar de uma forma que o outro consiga ouvir. 2) escutar o outro como você gostaria de ser escutado. 3) ter a proposta de tentar conviver, ao menos durante o tempo do diálogo, com a possibilidade de existirem concomitantemente muitas versões do mesmo acontecimento sem ter que decidir por uma. Esses são os básicos, para começar. Vejo que quando propomos um diálogo, todos pensam em falar. É só em um segundo momento que pensamos em escutar. E, que efeito tem no outro e em nós mesmos, escutar e se sentir escutados. Aplaca o coração.
Vivemos em uma sociedade em que o outro é sempre uma ameaça. Cada vez mais nossas leis, nossa mentalidade mais cotidiana transforma o outro em alguém mal intencionado que pretende me machucar, me invadir, etc. Não queremos ouvir, queremos nos defender. As situações de conflito, sejam elas na vida cotidiana das pessoas ou interglobais, são vistas em termos de ataques e defesas, uma justiça muito próxima à vingança.
Tenho tentado refletir sobre isso e sobre como ficamos tão impregnados dessa mentalidade que nem percebemos. E, como podemos propor outras formas de lidar com conflitos e diferenças, que tenham mais semelhança com diálogos, com incluir a possibilidade de que o outro não seja nosso inferno, como diria Sartre, mas nossa abertura para o mundo além de nossos umbigos.
Em uma situação como o divórcio em que tentamos lidar com perdas, é claro que é muito difícil pensar na perda do "antagonista". Claro que a minha perda é mais importante. Porém, se existe algum espaço para refletir sobre as perdas de modo geral, talvez as possibilidades de negociação e convivência sejam mais ampliadas.
Bons diálogos e bom fim de semana para todos!

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