segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Redivivos os bem idos

Minha colega de blog me pergunta sobre o que fazer sobre os amigos do casal separado. Comentei que amigos ficam ao lado. Que lindo e socialmente desejável, né? 

Reflito um pouco mais e respondo com o fim que dei aos amigos de minha ex-parceira. Enterrei a todos! Os próximos, a família, os colegas, os afins. Tear down the wall! Sepultei-os! A todos, ou quase todos. Adeus aos que tinha intimidade, aos chegados, aos solidários. Terra neles! Sete palmos. Um luto que mais cedo ou mais tarde, deles necessitei vestir. O negror do esquecimento, o preto do nada.


Vida que vem, minha ex-companheira me chama a seu "cumple años". De uma tacada vejo a muitos. À ela, aos seus, aos ex-desafetos,, ao rival. Beijo e abraço à minha linda enteada, aos afins, às queridas, a quem afetei e a quem me disse algo.


Incessante, arrebatou-me uma alegria sem fim. Uma euforia, um crescer do coração. O rever, ver de novo, com os mesmo olhos, talvez um tanto mais cansados porém menos míopes. Pessoas caras demais. E se deixasse a mente por si, era como se nada tivesse se passado. Só que havia também a tristeza limitante. A perda, o nunca mais, esse cruel obsediante. Um sentimento misturado que duas doses ajudaram a digerir.

Fui desenterrando. Um a um. E já não havia pranto para mortos reviventes. Como chorar à vida? Mesmo que esta cheire a caixão? Cada qual foi me ocupando seu lugar. Efemeramente, eu intuía. O amanhã, a cidade, a correria e a distância comeriam o reencontro.

O porvir os verá longe novamente. Mas naquele tempo, eram todos de novos meus. Amigos, parceiros, perfilados a meu lado na batalha diária. Ressurrectos, refaziam-se como parte de minha vida. Não aquela antiga que um dia foi e há muito partira. Mas o exato momento ora vivido. Féretro aberto,  o frescor do afeto exalou e expandiu minha compreensão. Foram importantes no passado, e o que nos houve reverbera até hoje em minha existência. Sigo flanando até que a encontro dançando seus antigos passos. Feliz a trilhar a mesma estrada. Erros repetidos em novos acertos. 

Uma voz me expulsaria de lá mas não sem antes obrigar-me a ouvi-la:
"Não restará pedra sobre aqueles que possuam o dom de submergir em si, de enterrar seus mortos. Eis que chegará a 25a hora. Tocada será a sétima trombeta! Saiam de suas tumbas todos os crentes na vida eterna. Apocalypse now. Redivivos os bem idos."

Estanco em um átimo e expando essa compreensão para outros falecidos. Da orfandade à parricidade. Contrito, encaminho os insepultos ao fogo. Compreendo o imperativo de se fechar portas, dar-lhe o nó. Encerrar a meada. Para que ela não nos consuma em zumbis.

2 comentários:

  1. Lindo texto, poético intenso. Dá pra ver que é do fundo da alma. As separações têm muitos desses momentos em que revisitamos o que deixamos pra trás e desenterramos e enterramos re-enterramos lembranças. Fechando portas, espiando em janelas e abrindo novos caminhos.

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  2. . Texto impecável, que nos emociona e nos remete aqueles momentos que, mesmo sem querer, tivemos que bater a porta e não olhar mais para trás.

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