Dialogando com filhos
Diálogo 1
"Minha mãe diz que nós viemos aqui para nos sentirmos melhor. Meu pai diz que viemos aqui por que temos que vir".
"Por que você não fala sobre isso com sua mãe?"
"Se eu conto para minha mãe, ela liga para o meu pai e eles brigam.Eu não quero que eles briguem. Não quero que seja minha culpa."
"O que seria sua culpa?"
"Eles se divorciarem.Tudo o que eu faço só piora a situação"
Diálogo 2
"De novo, não sei o que fazer, meu aniversário tá chegando e é sempre a mesma história!"
"Qual história?"
"Eu tenho que fazer dois, na verdade, três aniversários, se quiser que todo mundo fique bem. Um pra minha mãe ir. Outro para meu pai e a mulher dele. E outro pra mim, (risos) com meus amigos".
"Por que tantos??"
"Porque um não quer estar onde está o outro. E ficam chateados se não faço um pra cada um."
"E o seu?"
"Ah, esse é pra eu me divertir!!!!"
"Quantos anos vc vai fazer?"
"28"
"Mesmo? E quantos anos você tinha quando seus pais se separaram?"
"4".
Poderia contar pra vocês mais algumas dezenas de diálogos como esses que tenho presenciado no meu consultório durante meus anos de prática. Não farei isso. Convido aos leitores a lembrar todos os que já presenciaram e viveram. Convido também à reflexão sobre as situações de divórcio que perduram. Segundo alguns, as pessoas mantém assim, um vínculo. Nunca se separam de verdade, porque nunca esquecem, ou se permitem esquecer por alguns instantes que algum dia passaram por isso e sofreram muito.
Continuamos conversando sobre isso. É um assunto complexo, com muitas formas de olhar. Há todas as histórias dos pais e mães envolvidas, às vezes extremamente sofridas. Mas, sempre me pergunto: como podemos melhorar nossas formas de nos separar? Será que é transformando nossas formas de amar?
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Falando de amor...

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segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Redivivos os bem idos
Minha colega de blog me pergunta sobre o que fazer sobre os amigos do casal separado. Comentei que amigos ficam ao lado. Que lindo e socialmente desejável, né?
Reflito um pouco mais e respondo com o fim que dei aos amigos de minha ex-parceira. Enterrei a todos! Os próximos, a família, os colegas, os afins. Tear down the wall! Sepultei-os! A todos, ou quase todos. Adeus aos que tinha intimidade, aos chegados, aos solidários. Terra neles! Sete palmos. Um luto que mais cedo ou mais tarde, deles necessitei vestir. O negror do esquecimento, o preto do nada.
Vida que vem, minha ex-companheira me chama a seu "cumple años". De uma tacada vejo a muitos. À ela, aos seus, aos ex-desafetos,, ao rival. Beijo e abraço à minha linda enteada, aos afins, às queridas, a quem afetei e a quem me disse algo.
Incessante, arrebatou-me uma alegria sem fim. Uma euforia, um crescer do coração. O rever, ver de novo, com os mesmo olhos, talvez um tanto mais cansados porém menos míopes. Pessoas caras demais. E se deixasse a mente por si, era como se nada tivesse se passado. Só que havia também a tristeza limitante. A perda, o nunca mais, esse cruel obsediante. Um sentimento misturado que duas doses ajudaram a digerir.
Fui desenterrando. Um a um. E já não havia pranto para mortos reviventes. Como chorar à vida? Mesmo que esta cheire a caixão? Cada qual foi me ocupando seu lugar. Efemeramente, eu intuía. O amanhã, a cidade, a correria e a distância comeriam o reencontro.
O porvir os verá longe novamente. Mas naquele tempo, eram todos de novos meus. Amigos, parceiros, perfilados a meu lado na batalha diária. Ressurrectos, refaziam-se como parte de minha vida. Não aquela antiga que um dia foi e há muito partira. Mas o exato momento ora vivido. Féretro aberto, o frescor do afeto exalou e expandiu minha compreensão. Foram importantes no passado, e o que nos houve reverbera até hoje em minha existência. Sigo flanando até que a encontro dançando seus antigos passos. Feliz a trilhar a mesma estrada. Erros repetidos em novos acertos.
Uma voz me expulsaria de lá mas não sem antes obrigar-me a ouvi-la:
"Não restará pedra sobre aqueles que possuam o dom de submergir em si, de enterrar seus mortos. Eis que chegará a 25a hora. Tocada será a sétima trombeta! Saiam de suas tumbas todos os crentes na vida eterna. Apocalypse now. Redivivos os bem idos."
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