sábado, 16 de abril de 2011

Conexões


Tenho trabalhado muito, tanto na clínica como na pesquisa com os desdobramentos cotidianos das separações e divórcios. O que quer dizer isso? Quando começamos a trabalhar, eu e a equipe, nos grupos com pessoas que se separaram, observamos que em geral todos, os participantes dos grupos, nós, a mídia, os livros de auto-ajuda, etc.focalizávamos nos aspectos mais amplos e mais abstratos das separações. No rompimento da relação amorosa, nas questões morais, sociais, etc. Mas, essas questões aparecem no dia a dia de nossas vidas. E, os depoimentos que ouvíamos, nossas próprias experiências nos levavam a conversar cada vez mais sobre "detalhes tão pequenos" de todos nós, detalhes cotidianos. Mas, que não se pense que são detalhes, no sentido que a palavra pode ter de "sem importância". São manifestações às vezes quase invisíveis de todas as grandes coisas que vivemos em uma separação. Um cheiro pode evocar lembranças (todos sabemos disso), assim como pode ser perturbador mudar o itinerário de volta para casa.
Quando um casal se separa, inúmeras rotinas, implícitas na vida de toda a família ficam em questão e, durante muito tempo, estarão. Serão meses, anos às vezes, de fazer pela primeira vez alguma coisa. Sempre me move ou co-move pensar do "day-after". Aquele primeiro dia em que a rotina está diferente. Quem leva as crianças à escola? Não tem competição no banheiro... Não acho nem o interruptor nessa nova casa!
Claro, essas situações não são exclusivas de divórcios, são expressões de mudanças.
E mudanças são sempre carregadas de perdas e ganhos. Nem todas são planejadas ou desejadas.
O foco no cotidiano tem me permitido estabelecer conversas produtivas com as pessoas. E, cada vez mais entendo que cada momento, movimento em nosso dia, expressa conexões. Não estamos falando apenas de um fato, mas do que ele implica e significa no contexto de nossa vida. Estamos falando de conexões. Mudanças implicam em conectar-se de formas diferentes e desconectarmo-nos de relações em que antes estávamos confortavelmente ou não conectados. Conexão tem a ver com pertinência. Pertinência tem a ver com identidade.
Bom fim de semana para todos!

Um comentário:

  1. Raquel M. Ciancio18 abril, 2011

    Outro dia percebi isso, num episódio tão simples que poderia parecer ridículo. Eu que estou morando sozinha há 6 meses, recebi a visita da minha mãe, que tinha ido ao mercado comigo. Subimos com as compras no carrinho do prédio - como eu sempre faço, sozinha. Mas dessa vez, eu precisei comunicar: "vou descer com o carrinho", ao que ela respondeu: "ok!"
    "Oh-oh, tem alguém na minha casa..." eu pensei.
    Detalhes tão pequenos que fazem diferença no cotidiano, nas relações, na identidade.

    ResponderExcluir