Vivemos em uma sociedade em que o binômio culpado/vítima tem sido muito valorizado. Parece que todos os problemas que aparecem em nossa vida cotidiana poderão desaparecer ou ter alívio se pudermos enquadrá-lo neste formato. Além disso, temos cada vez mais à nossa disposição dispositivos que nos auxiliam a punir o culpado e assim tentar reparar o dano que nos foi feito ou feito a alguém que nos é caro. A Justiça tem feito seu papel e, nas questões sociais e familiares nunca se viu tamanha explosão de possibilidades de reparar danos e punir. Abandono afetivo, alienação parental, bullying são vistos com o óculos do culpado/vítima. São medidos em termos de punição.
As leis de divórcio, desde os anos 70, pelo mundo todo vem possibilitando um formato conhecido por "consensual", ou "sem culpa". O que quer dizer isso? Que, você pode querer se separar de seu cônjuge, sem que para isso, como vigorava na maioria das legislações anteriores, tenha que declará-lo culpado de algum motivo previsto na lei (adultério, insanidade, abandono de lar, etc.) Para alguns autores, as leis de divórcio que permitem pedir uma separação com base no desejo dos dois cônjuges de não mais continuar com o casamento foi um dos principais motivos para o crescimento estrondoso das taxas de divórcio nas últimas décadas.
No entanto, o movimento recente chamado por alguns de "judiciarização a família", regula cada vez mais a vida familiar e a convivência cotidiana. Além disso, vemos que esses dispositivos que são produzidos para proteger pessoas que necessitam de proteção, acabam banalizados. Tal banalização, acaba por inutilizar a própria lei, já que ela vira um recurso de disputa e vingança mais do que algo que possa cuida e proteger, especialmente as crianças e adolescentes.
Uma coisa que chama a atenção é que em nenhuma dessas leis ou dispositivos legais para lidar com os conflitos familiares, existe qualquer recomendação, incentivo ou coisa que o valha, para o diálogo. Não há recursos em nenhuma dessas situações onde, antes da pessoas começarem a disputar legalmente quem está certo, quem é o culpado, elas possam conversar. O sofrimento, a mágoa, os equívocos de toda ordem são encaixados em quem paga e quem ganha. E, assim, as famílias continuam suas vidas. Para a Justiça, com a situação "resolvida". E, para eles....
domingo, 1 de maio de 2011
A culpa é sua!
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